António Joaquim fez-me o favor de achar engraçada a minha história, e perguntou-me quanto devia, visto que a minha profissão era vender histórias. Conspiraram poderosos sentimentos de gratidão para que eu, com o desprendimento do filósofo que rejeitou os tesouros de Xerxes, lhe dissesse que não era nada. Sem embargo da minha recusa, António Joaquim, deu-me um cigarro, e perguntou-me se os editores em Portugal eram mais liberais do que ele. Pude convencê-lo de que os editores em Portugal eram as hóstias imoladas espontaneamente nas aras das letras pátrias, e que eu, à minha parte, havia arruinado uns poucos, e os meus colegas o resto, de teor e modo que, volvidos alguns anos, os poetas e romancistas, se não pudessem viver repletos e intouridos das suas fantasias, haviam de ir às praças, à imitação de Homero, narrar os seus poemas e romances às multidões, que, em paga, lhes enramariam as frontes de acácias e cilindras.
Como este período estirado me tirasse a respiração, e a liteira parasse na estalagem de Baltar, apeámos.
(...)
In Vinte horas de Liteira - C.C.B.
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