(...)
O que querias tu que ele se fizesse? Albardeiro? Cabeleireiro? Acendedor de lampiões? Peço à tua razão ilustrada uma resposta.
- Se ele tinha inteligência - disse António Joaquim - fizesse-se escritor.
Ouvido isto, benzi-me, pus os olhos no céu, e disse:
- A Providência divina houve por bem endoudecê-lo pelos processos ordinários da loucura vulgar, antes de lhe incutir a loucura extraordinária de fazer-se escritor em Portugal. Que paradoxo! A inteligência do teu amigo não lhe abriu as portas do funcionalismo público? Não: pois bem, faça-se dessa inteligência alguma cousa! Um escritor - o derradeiro mester em que pode ser aproveitado esse raio luminoso do coração de Deus!...
Ó meu amigo, o máximo favor que um português pode receber do Céu, é indoudecer, na véspera de fazer-se escritor público!
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In Vinte Horas de Liteira - C.C.B.
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