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- Conta-me agora tu uma história - disse António Joaquim.
- Eu costumo vendê-las - respondi com o grave e sisudo desinteresse da arte. - Contava-te um conto bonito, se me desses este brilhante, que me vai cegando com o resplendor de Jeová ao povo escolhido.
- Esta pedra - observou o meu amigo, mostrando-me o anel - também tem história. Pertenceu aos brilhantes de minha prima Adriana.
(...)
... Disseram-lhe que era a suprema demonstração de juízo casar com o sócio de seu pai, porque era velho, e porque era rico: como velho, amá-la-ia como os novos já não amam; como rico, deixá-la-ia rica e nova para depois poder escolher marido. Adriana, ouvidas estas razões de senhoras idosas e experimentadas, sufocou as do coração, e deu-se ao amor e à riqueza do velho, com a tácita condicional de desejar incessantemente que ele morresse para casar com o novo. A sociedade desculpa esta desmoralização.
- Conta-me agora tu uma história - disse António Joaquim.
- Eu costumo vendê-las - respondi com o grave e sisudo desinteresse da arte. - Contava-te um conto bonito, se me desses este brilhante, que me vai cegando com o resplendor de Jeová ao povo escolhido.
- Esta pedra - observou o meu amigo, mostrando-me o anel - também tem história. Pertenceu aos brilhantes de minha prima Adriana.
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... Disseram-lhe que era a suprema demonstração de juízo casar com o sócio de seu pai, porque era velho, e porque era rico: como velho, amá-la-ia como os novos já não amam; como rico, deixá-la-ia rica e nova para depois poder escolher marido. Adriana, ouvidas estas razões de senhoras idosas e experimentadas, sufocou as do coração, e deu-se ao amor e à riqueza do velho, com a tácita condicional de desejar incessantemente que ele morresse para casar com o novo. A sociedade desculpa esta desmoralização.
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Francisco Elisário, que assim se chamava o marido de Adriana, não estudara o sexo feminino, como costumam estudá-lo uns certos sábios, que se enganam todos os dias, e apenas ganham dos seus estudos saberem que são enganados, como outros que nunca estudaram matéria tão incompreensível. O melhor mestre, em ciência tão abstracta, é o amor.
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In "Vinte horas de Liteira" - C.C.B.
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