A cada história, emprestava Camilo o seu tom irónico, galhofeiro,... de quem sabia fazer espírito.
Repassarei algumas dessas passagens, no seu diálogo com António Joaquim.
« - Isso não é questionar, é fazer espírito - interrompi. - Seja o que for, é uma cousa que depõe vantajosamente a favor da tua habilidade galhofeira. Em todo o caso, entendes tu que não há mulher que salve!
- Entendo. Cousa que salve há uma só: é a experiência das mulheres que perdem. Ainda há uma outra, que não ouso dizer-te com medo que me julgues um zombeteiro de mau gosto.
- Que cousa é essa?...diz lá!
- É uma égua brava.
- Uma égua brava?! Que mangação!
- Ouve lá a história de uma égua que salva.»
(...)
«Tratou ele de colher vingança por mais covardes traças.
Denunciou ao pai de Maria os nossos breves diálogos da janela do muro. A mãe, esforçada pelo nariz que eu trasladara, sem malícia, na parede da igreja, instigou o marido, fumegando vaporações de raiva pelo nariz original. Foi a menina proibida de ir ao miradouro.»
(...)
«A srª Joana passou a esponja da razão sobre o nariz pintado; o sr. João, marido dela, esqueceu a ofensa involuntária às suas pombas; minha mãe chorou as derradeiras lágrimas sobre a mitra dos seus sonhos episcopais; e meu pai foi obrigado a concordar que os trajos das senhoras cidadãs não pegavam nem implicavam desonestidade às meninas das aldeias. Os dois clérigos deram por concluída, cooperante a protecção divina, a sua missão, e escreveram os proclamas para serem lidos nos três dias santificados.»
In "Vinte Horas de Liteira" - C.C.B.
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