Seide Saúda-vos!
30 de maio de 2009
VII - A gratidão
29 de maio de 2009
VI - A Cruz do Outeiro
28 de maio de 2009
V - História das janelas fechadas há 30 anos
(pág.51/52)
- Conta-me agora uma história sem dinheiro - pedi eu ao meu amigo.
-Queres então uma história sentimental?
- Isso.
- História de sentimento aldeão? Eu não posso contar de outras. Bem sabes que da vida das cidades nada sei.
- Vejamos: pode bem ser que me vás referir cousas muito originais!
- Onde tu vens!... originalidade!
- Onde devo ir. Nas cidades é que já não há sentimento de originalidade nenhuma. As paixões, de lá, boas e más, têm tal analogia, que parece haver uma só manivela para todos os corações. Esta identidade é grande parte na monotomia dos meus romances. Há duas ou três situações que, mais ou menos, ressaem no enredo de vinte dos meus volumes, cogitados, estudados, e escritos nas cidades. Quando quero retemperar a imaginação gasta, vou caldeá-la à incude do viver campesino. Avoco lembranças da minha infância e adolescência, passadas na aldeia, e até a linguagem me sai de outro feitio, singela sem afectação, casquilha sem os requebrados volteios, que lhe dão os invezados estilistas bucólicos. Assim que descaio em dispor as cenas da vida culta, aí vem a verbosidade estrondosa, o tom declamatório, as infladas objurgatórias ao vício, ou panegíricos, tirados à força da violentada consciência, a umas inocentes virtudes, que me têm granjeado descréditos de romancista da lua. Conta-me, pois, uma história sentimental, meu amigo.
(...)
In "Vinte Horas de Liteira" - C.C.B.
27 de maio de 2009
IV - A conteira
- Então vocês chamam esqueletos às histórias que apanham de orelha? É bem posto o nome, atendendo à magreza dos livros que fazem!... Que histórias queres tu? De dinheiro?
In "Vinte Horas de Liteira" - C.C.B.
26 de maio de 2009
III - Maldito seja entre vós quem jogar
(Pág. 26)
- Morrer...
- Com cem contos, e uma estátua na tua terra, à custa da nação agradecida.
- Estátua do espanto me fazes tu, amigo António! Se não fosses engraçado, serias tolo! Pois tu cuidas que eu vivo dos romances?
- Cuidei...
- Nada, não... Eu vivo da glória. Descobri em mim um segundo aparelho digestivo, que elabora, em substância nutritiva, a glória.
- Isso parece-me útil - obtemperou o meu amigo; - porém, seria justo que tivesses teu um décimo do dinheiro que tens dado a tanta gente...
- A quem?!
- Aos personagens das tuas novelas.
(...)
25 de maio de 2009
I e II - A égua que salva
A cada história, emprestava Camilo o seu tom irónico, galhofeiro,... de quem sabia fazer espírito.
«Tratou ele de colher vingança por mais covardes traças.
Denunciou ao pai de Maria os nossos breves diálogos da janela do muro. A mãe, esforçada pelo nariz que eu trasladara, sem malícia, na parede da igreja, instigou o marido, fumegando vaporações de raiva pelo nariz original. Foi a menina proibida de ir ao miradouro.»
«A srª Joana passou a esponja da razão sobre o nariz pintado; o sr. João, marido dela, esqueceu a ofensa involuntária às suas pombas; minha mãe chorou as derradeiras lágrimas sobre a mitra dos seus sonhos episcopais; e meu pai foi obrigado a concordar que os trajos das senhoras cidadãs não pegavam nem implicavam desonestidade às meninas das aldeias. Os dois clérigos deram por concluída, cooperante a protecção divina, a sua missão, e escreveram os proclamas para serem lidos nos três dias santificados.»
In "Vinte Horas de Liteira" - C.C.B.
24 de maio de 2009
22 de Maio: Vinte Horas de Liteira
São dezasseis histórias, que embora produtos da imaginação fantasiosa de Camilo, não perdem vida e valor, “como documentos singularmente fidedignos da sociedade portuguesa de Oitocentos.”- (em nota editorial).
Uma escolha muito feliz, sugerida pelo nosso guia camiliano, o professor Cândido Oliveira Martins. E feliz, porque para quem não lê Camilo há muito, este livro, pouco volumoso, leva-nos a memórias e a imaginações de outros livros de Camilo, como se esta pequena/grande obra fosse uma amostra, o “sumo” bem espremido de todas as outras.
Para quem não conhece Camilo, fica a conhecê-lo como um homem ligado à vida do campo e, como escritor, recorrendo a vários meios e a estilos de linguagem, como o próprio escreveu em “História das janelas fechadas há 30 anos” (págs. 51/52):
Decorreu esta sessão num clima de entusiasmo, procurando reflectir o espírito camiliano, as ironias, a soberania na linguagem, a riqueza de quem possui uma sensibilidade que contempla, sobretudo, a alma humana.
Resta-me a consolação de saber que a 17 de Junho, retomaremos mais uma conversa, com "Coração, Cabeça e Estômago"!
23 de maio de 2009
A primeira comunidade de leitores - 15 de Maio
Maio 15, 2009 por casadecamilo
Um texto de Amadeu Gonçalves
17 de maio de 2009
Trilho da Cangosta do Estevão
Foto da autora deste blogue.
Ver fotos e o resto dos textos em: http://lucy-natureza.blogspot.com/search/label/Museu-Casa%20de%20Camilo