José Teixeira da Silva, nascido em 1818 no lugar do Telhado, Castelões de Recezinhos, comarca de Penafiel, é dos salteadores mais conhecidos da história portuguesa. "Zé do Telhado", nome que saltou para além do Marão, diz o povo, roubava aos ricos para dar aos pobres. A fama, essa, não lhe valeu aos olhos da justiça nem o salvou da Cadeia da Relação no Porto, onde por fim recolheu, acusado de roubos vários, homicídio, organização de quadrilha de assaltantes e evasão tentada sem passaporte. Lá travou conhecimento com Camilo Castelo Branco, ele que, por outros motivos românticos, era na altura hóspede do local. Dessa estadia resulta "Memórias do Cárcere", onde ficam gravados os feitos do bandoleiro.
(Na foto: Camilo Castelo Branco e José Teixeira da Silva)
«Este nosso Portugal é um país em que nem pode ser-se salteador de fama, de estrondo, de feroz sublimidade.
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Roubar ilustriosamente, é engenho. Saquear a ferro e fogo, é roubo.
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Diz algo, no entanto, como exemplo desta lastimável anomalia, a história de José Teixeira da Silva do Telhado, o mais afamado salteador deste século.
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Seu pai era o famigerado Joaquim do Telhado, capitão de ladrões, valente com as armas e raio devastador em franceses que ele matava porque eram franceses e porque eram ladrões, posto que, na qualidade de membro da nação espoliada, o Senhor Joaquim chamasse só a si o que era de fazenda nacional. Um tio-avô de José Teixeira, chamado ele o Sodiano, já tinha sido salteador de porte e infestara o Marão durante muitos anos.»
Os tempos pediam heróis. Depois de três invasões napoleónicas, o país seguia na miséria, dividido entre lutas liberais e absolutistas, com a corte exilada num Brasil distante e os que ficaram em terra entregues à crise económica e política. Da Guerra Civil, tal como Maria da Fonte, também Zé do Telhado sai herói. Pela bravura ao lado das tropas liberais do General-Visconde de Sá da Bandeira, condecoram-no com a "Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito". Da tropa e desempregado, voltou para a mulher e cinco filhos, seguindo a vida de salteador que lhe valeu a fama. Os anos ao comando da quadrilha de bandoleiros de Custódio, o "Boca Negra" não lhe custaram enfim a forca, mas o degredo. É em Malanje, Angola, que terminou os seus dias, negociante de borracha, cera e marfim e a dar pelo nome de "Quimuêzo", o homem de barbas grandes.
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