"A noite de amanhã, no Porto, é um inferno em que, se não há o bíblico estridor dos dentes, há o flagício das cabeças infligido pela orquestra bárbara dos garotos, que conservam a instrumentação com que os pastores da Galileia festejaram o menino recém-nascido no presépio de Belém. São os ferrinhos, as sacabuxas, a viola chuleira, e as gargantas deles, que dilaceram pela rouquidão e pelos pigarros dos depósitos dos maus vinhos. A cada par de patacos que arrancam às famílias que transigem oprimidas e compram o silêncio daqueles bandidos, entram na taberna, aferventam o entusiasmo, e esmurraçam as portas que não se abrem.
Selvajarias de cafres cristãos. No Porto celebram-se de tal maneira as festanças ruidosas pelo natalício do mansíssimo Jesus, que parece, naqueles estrondos de raiva e de algazarra, estar-se comemorando com dissonâncias de réprobos, não o nascimento de Jesus, mas sim o nascimento do diabo. Ó Cristo civilizador! envia um raio sereno e luminoso da tua graça àqueles garotos, visto que a polícia não se importa. (...)"
Camilo Castelo Branco
Nota: Texto retirado do livro: "Daqui houve nome Portugal" - Antologia de verso e prosa sobre o Porto - Organizada e prefaciada por Eugénio de Andrade.
Bibliografia de Camilo Castelo Branco encontrada no livro:
«Obras Selectas - A Filha do Arcediago - Onde Está a Felicidade? - Ecos Humorísticos do Minho - Anos de Prosa.»
Nota: Texto retirado do livro: "Daqui houve nome Portugal" - Antologia de verso e prosa sobre o Porto - Organizada e prefaciada por Eugénio de Andrade.
Bibliografia de Camilo Castelo Branco encontrada no livro:
«Obras Selectas - A Filha do Arcediago - Onde Está a Felicidade? - Ecos Humorísticos do Minho - Anos de Prosa.»
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