Casa de Camilo

Camilo Castelo Branco

Camilo Castelo Branco
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Seide Saúda-vos!

25 de janeiro de 2012

Leituras Escolares

Camilo Castelo Branco
Camilo Castelo Branco é um dos principais escritores da língua portuguesa. Toda a gente conhece o Camilo escritor de romances, mas poucos conhecerão o Camilo Castelo Branco escritor de textos científicos.
O livro  Leituras Escolares   tem um texto intitulado " A agua" da sua autoria.
Segue-se o interessante escrito na sua grafia original.

            "A’ semelhança do ar, é a agua indispensável á  conservação da vida animal. Reduzida a vapor, condensa-se em nuvens, desfaz-se em chuva e volve-se um dos princípios mais fecundantes da vegetação. A agua corrente é o mais económico motor ao alcance do homem; aquecida até certo grau, faz-se agente de força illimitada (machina de vapor); é, em summa, um magnífico adereço do universo.
Os ribeiros, lagos e catadupas aformoseiam a paizagem, e não há ahi coisa mais majestosa que a corrente de um rio largo, e nada mais espectaculoso que o mar em tormenta.

A agua que envolve parte do globo ( a agua marítima), ou a que lhe deriva no interior, ou á  flor da terra (agua doce), contém matérias extranhas, que lhe depuram mediante a vaporização ou a destillacão. Quem quer saber a quantidade de matérias sólidas, taes como sulfato de cal e carbonato de cal, dissolvidas na agua de fonte ou poço, faz evaporar o liquido em um vaso vidrado, posto ao fogo. A valia-se a pureza da agua consoante a qualidade e natureza do resíduo. Devem considera-se boas para beber as aguas correntes, límpidas, sem cheiro, nas quaes se cozem bem os legumes e sem cheiro, nas quaes se cozem bem os legumes e se dissolve o sabão sem produzir grumos, nem perder a limpidez, ainda que lhe disslvâmos nitrato de prata, e que, evaporadas até ao extremo, deixem pequeno ou nenhum depósito. A agua pura, a não ser sufficientemente arejada, não é boa. Agua procedente de chuva, neve ou gelo deve ser filtrada ao travéz de pedra porosa ou camada de areia fina. Depois, é mister vascolejá-la em loca bem arejado, para que ella se torne excellente.

A agua passa do estado líquido ao sólido pelo abaixamento de temperatura (quando géla). Neste caso, o seu volume progressivamente diminue  até marcar cerca de quatro graus centígrados de temperatura, pouco mais ou menos, acima de zero do thermómetro. E’ então que ella ao seu maximum de densidade ( o maior peso no mesmo volume). D’aqui em deante, o liquido dilata-se, e, se o vaso que o contém, não é movido, a temperatura póde baixar até cinco graus sem gelar; mas, logo que o vaso é agitado, apparece multidão de caramellos que se agrupam, formando massa de agua gelada, cujo volume é maior que o do líquido de que procede. Calcula-se que 14 litros de agua produzem 15 litros de gêlo. Isto explica as rupturas longitudinaes das arvores nos Invernos aturados. Tem-se visto a agua gelada, em canudo de ferro de espessura de um dedo, abri-lo por dois pontos. Também se calcula que a força empregada pelo gêlo no rompimento de uma esphera de metal, equivale a 13:860 kilogramas."



20 de janeiro de 2012

O namoro em 1815

Rua do Porto
Foto retirada daqui:

O namoro em 1815

Em 1815 podia-se namorar honestamente de uma janela para a outra, na Rua das Flores, sem que uma patrulha insolente parasse debaixo para testemunhar a vida íntima dos que lhe pagam. Podia cochichar delícias a donzela recatada da trapadeira para a rua, sem que o amador extático ao som maviosíssimo daquela voz, receasse o retire-se! brutal do janizaro. Podia, finalmente, segurar-se o gancho de uma escada de corda no terceiro andar, subir impávidamente, conversar duas horas sobre vários assuntos honestos, e descer, sem o receio de encontrar cortada a retaguarda por um selvagem armado à nossa custa, que nos conduz ao corpo da guarda a digerir a substância da deliciosa entrevista.
Bem-aventurados, pois, os que namoravam em 1815.

Camilo Castelo Branco

16 de janeiro de 2012

Daqui houve nome Portugal




Prefácio:
A Domingos Peres das Eiras com umas Violetas


(...)
- Precisas de ler Camilo - responderam-me. Eu calei-me: não era forte em Camilo. Pensava no espírito tão genuinamente popular desta terra, a que se encontrava vinculada a mais alta das virtudes, a sua fronderie liberalista, que conquistou o privilégio de banir a nobreza dos seus muros e não permitiu ao Tribunal do Santo Ofício celebrar aqui mais do que um só auto-de-fé. Que me importava a mim, naquele momento, o que Camilo dissera do Porto? Poderia alguém, Camilo ou quem quer que fosse, negar aquela beleza desgrenhada e áspera que tinha diante dos meus olhos? Só mesmo quem fosse cego de nascença...
(...)
Quanto a Camilo só o li - e mal, é certo! - muitos anos depois: quando voltei ao Porto para ficar. Quem o nega? Camilo viu do Porto a outra face, a do «burgo antigo com a sua dinastia de comerciantes», que o Eça também lhe descobre, sem contudo lhe negar o que Camilo lhe negou - a honradez: «O bom portuense se quiser ter foros de cidadão terá de provar que o bisavô veio para a cidade com uma broa e meio presunto no saco, escarranchado sobre dois costais de castanholas; que o avô teve balcão de fazendas brancas e foi irmão do Santíssimo, irmão benemérito da Misericórdia, e vinte anos a fio vestiu balandrau para pegar ao andor de Nossa Senhora. Item, que o pai era, sem vergonha do mundo, negociante de quatro portas, afora os postigos por onde passava o contrabando; que sua mãe fora uma gorda e boa mulher que remendava, passajava e sabia mesmo deitar uns fundilhos nas calças do marçano e nunca na vida tivera pacta com letra redonda.» Era isto o Porto , na juventude de Camilo? Se pensarmos no pendor caricatural e polémico do autor do «Amor de Perdição», nas circunstâncias em que tais palavras, e outras, e outras, foram escritas (poucas vezes, como aqui, o verso de Pessoa «Compra-se a glória com desgraça» terá tido tanta ressonância), poder-se-á objectar que a imagem está um tanto ou quanto desfocada; ou se preferem: não seria o provincianismo apelintrado, que se despeja inteiro na cidade da Virgem, afinal, característica de todo o país? Do país..., do país..., que pensava Camilo? Oiçam-no! «Quando se fará ao menos inodora esta cloaca de Portugal?»  Azedo, agastado, doente, «escouceado» numa terra que lhe não perdoava o sarcasmo, como a Garret não perdoou a ironia, Camilo ainda pôde, contudo, escrever a um amigo: «Estou triste. Aproxima-se a hora de deixar para sempre esta terra, onde a par de muitos dissabores, experimental alegrias instantâneas. Não é da gente que tenho saudades. É de não sei o quê...» São realmente muito tortos os caminhos do amor...
Mais do que sarcasmo de Camilo, que disfarçava, ao fim e ao cabo, uma ternura por esta gente metida nos seus «tamancos estóicos» (se assim não fora, como explicar que ele lhe tenha mordido e remordido o coração?), surpreende o desprezo de António Nobre,...
(...)
A grande trindade poética que lavra, nesta pedra escura, o perfil seguro do Porto - Fernão Lopes, Garret e Camilo - leva fatalmente à cidade uma pessoal visão do mundo, o seu génio próprio. O Porto de Fernão Lopes é quase legendário: heróico e honrado; o de Camilo, grotesco e dramático; o de Garret, irónico, pitoresco e sentimental. São três tempos (em duplo sentido: histórico e musical) do seu carácter que, embora esquematicamente enunciados, nos permitem algumas aproximações. A cidade viril de Fernão Lopes é ainda a de Herculano, Ramalho, Jaime Cortesão e Miguel Torga; Raul Brandão, Pascoaes e Agustina estão, de algum modo, na continuação do pessimismo de Camilo; de Garret parte, dessorada, perdido por completo o seu impenitente humor, toda uma toada que de Júlio Dinis e António Nobre vem desaguar em tanta loa tacanhamente regionalista e deprimente. Isto para falarmos apenas de quem mais se debruçou na alma destas pedras, bem pouco transparente, como se vê.
(...)

«Para a minha alma eu queria uma torre como esta, assim alta, 
assim de névoa acompanhando o rio.»

S. Lázaro, 1967
Eugénio de Andrade



Nota: Texto retirado do livro: "Daqui houve nome Portugal" - Antologia de verso e prosa sobre o Porto - Organizada e prefaciada por Eugénio de Andrade.

Bibliografia de Camilo Castelo Branco encontrada no livro:
«Obras Selectas - A Filha do Arcediago - Onde Está a Felicidade? - Ecos Humorísticos do Minho - Anos de Prosa.»

12 de janeiro de 2012

NATAL no Porto


"A noite de amanhã, no Porto, é um inferno em que, se não há o bíblico estridor dos dentes, há o flagício das cabeças infligido pela orquestra bárbara dos garotos, que conservam a instrumentação com que os pastores da Galileia festejaram o menino recém-nascido no presépio de Belém. São os ferrinhos, as sacabuxas, a viola chuleira, e as gargantas deles, que dilaceram pela rouquidão e pelos pigarros dos depósitos dos maus vinhos. A cada par de patacos que arrancam às famílias que transigem oprimidas e compram o silêncio daqueles bandidos, entram na taberna, aferventam o entusiasmo, e esmurraçam as portas que não se abrem.
Selvajarias de cafres cristãos. No Porto celebram-se  de tal maneira as festanças ruidosas pelo natalício do mansíssimo Jesus, que parece, naqueles estrondos de raiva e de algazarra, estar-se comemorando com dissonâncias de réprobos, não o nascimento de Jesus, mas sim o nascimento do diabo. Ó Cristo civilizador! envia um raio sereno e luminoso da tua graça àqueles garotos, visto que a polícia não se importa. (...)" 

Camilo Castelo Branco
Nota: Texto retirado do livro: "Daqui houve nome Portugal" - Antologia de verso e prosa sobre o Porto - Organizada e prefaciada por Eugénio de Andrade.

Bibliografia de Camilo Castelo Branco encontrada no livro:
«Obras Selectas - A Filha do Arcediago - Onde Está a Felicidade? - Ecos Humorísticos do Minho - Anos de Prosa.»



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Casa de Camilo - Noites de Insónia

«As “Noites de Insónia” têm como finalidade a descoberta de formas diferentes de aproximação aos textos camilianos, através da discussão em grupo de determinadas obras, escolhidas previamente. Do gosto pela leitura e da conversa sobre o que se lê, da troca de opiniões, de pontos de vista, de associações, procuraremos criar cumplicidades e desenvolver o gosto por uma leitura mais activa e partilhada da obra do romancista de Seide.» http://camilocastelobranco.org/index2.php?co=569&tp=6&cop=260&LG=0&mop=604&it=evento_lst Coordenadores: 2009 - Professor Cândido Oliveira Martins - Universidade Católica de Braga 2010 - Professor Sérgio Guimarães de Sousa - Universidade do Minho 2011 - Prof. João Paulo Braga

Encontros 2012 - Professor Sérgio

15 Fevereiro - "Memórias do Cárcere" - Discurso Preliminar
7 Março - "Memórias do Cárcere" - Do I capítulo ao V

Encontros 2011 - Professor Paulo

2011 "A Viúva do Enforcado" - 16 de Novembro - 21:30 "A Filha do Arcediago" - 19 de Outubro - 21:30 "As Aventuras de Basílio Enxertado" - 21 de Setembro - 21:30 "Maria Moisés" - 9 de Julho - 21:30 "O Cego de Landim" - 15 de Junho - 21:30 "O Retrato de Ricardina" - 4 de Maio - 21:30 "A Corja" - 6 de Abril - 21:30 "Eusébio Macário" - 9 de Março - 21:30 "A Sereia" - 9 de Fevereiro - 21:30

Encontros 2010 - Professor Sérgio

"Memórias de um suicida" - 30 de Novembro - 20h "O que fazem Mulheres" - 6 de Outubro - 21:30h "O Amor de Perdição" - 16 Junho - 20h "O Senhor do Paço de Ninães" - 21 Abril - 21h30 "Anátema" - 24 Março - 21h30 "A Bruxa de Monte Córdova" - 24 Fevereiro - 21h30 "A Queda dum Anjo" - 20 Janeiro - 21h30

Encontros 2009 - Professor Cândido

"Estrelas Propícias" - 11 Novembro - 20h "A Brasileira de Prazins" - 21 Outubro - 21h00 "Novelas do Minho" - 16 Setembro - 21h30 "Coração, Cabeça e Estômago" - 17 Junho - 21h30 "Vinte horas de Liteira" - 22 Maio - 21h30 "Memórias do Cárcere" - 30 Abril - 21h30