Visitar Vilarinho da Samardã, em Vila Real, e Friúme, em Ribeira de Pena, ... onde Camilo passou parte da sua infância e juventude, leva-nos muito atrás no tempo, ao tempo de seguirmos os passos de um jovem feliz, caminhando tão em sentido oposto aos passos finais que lhe conhecemos em S. Miguel de Seide.
Foi com alguma nostalgia, mas com imenso prazer, que acompanhámos o nosso anfitrião de Seide, o Dr. José Manuel Oliveira, que nos guiou nesta parte do Roteiro Camiliano.
Saídos de Vila Nova de Famalicão na manhã cinzenta e chuvosa de 9 de Julho, em jeito de ameaça de nos encobrir a paisagem o dia todo, assim chegámos a Vila Real, onde nos abastecemos com umas deliciosas e quentinhas "covilhetes" (tipo empadinhas de carne) da pastelaria Gomes. Daí seguimos para Vilarinho da Samardã, local onde viveu Camilo Castelo Branco e sua irmã, vindos de Lisboa assim que ficaram orfãos.
Foi aqui, na casa da tia Rita Emília, que Camilo passou os anos mais felizes da sua infância e adolescência, conforme as suas próprias palavras, usadas na inscrição da parede da casa:
"Eu não tenho imaginação, tenho memória, memória do que vi, do que senti, do que experimentei." (Vingança, 1858)
"Quando quero retemperar a imaginação gasta, vou caldeá-la à incube do viver campesino. Evoco lembranças da minha infância e adolescência, passadas na aldeia, e até a linguagem me sai de outro feitio, singela afectação, casquilha sem os requebrados volteios, que lhe dão os inviesados estilistas bucólicos". (Vinte Horas de Liteira, 5ª edição, 1966)
E, passadas as primeiras impressões, as mais sentidas em comoção e lembranças felizes do nosso escritor de Seide, eis-nos instalados num magnífico parque de merendas ali perto, onde nos propusemos alegrar o dia com um repasto delicioso, guitarradas e cantigas, agradecendo aos céus por nos dar uma 'aberta' no tempo, o tempêro do estômago e a leveza da alma. Foram momentos magníficos vividos em partilha e alegria com o grupo de leitores e coordenadores das Noites de Insónia, mais todo o pessoal que cuida e rege a Casa de Camilo e o Centro de Estudos Camilianos, em S. Miguel de Seide, contando ainda com a presença de alguns familiares e amigos.
De seguida, fomos para a aldeia de Bragadas, em Ribeira de Pena, visitar a famosa porta que deu ensejo à "História de uma porta", inserida nos contos: Noites de Lamego.
"A cena decorre em Bragadas, lugar da margem fronteira a Friúme.
(...)
Bragadas está no viso de um outeiro, cujos pendores caiem sobre os rios Tâmega e Beça, perto a sua confluência.
(...)
Das trutas do Beça, diz Camilo serem «trutas velhas de cabelos brancos» e ainda que elas eram «as maiores trutas dos córregos, riquíssimos de Portugal».
(...)
Mas não deixa de estar lá um portal, escondido aos olhos de quem na rua passa, imprevisível na localização, nas proporções desmesuradas, e também mesmo na ornamentação, que não tendo a riqueza hiperbolizada de Camilo, é, mesmo assim, o melhor espécime de portal magestoso entre nós existente.
(...)
Dentro, a casa da moradia, é, como diz Camilo, uma modesta habitação de lavradores remediados.
(...)
Porque não teria prosseguido aquela obra magestosa?
Roubo do dinheirinho praticado pelo padre-filho ao padre-pai como conta Camilo, ou isto não passa de ficcão novelista?
(História de uma porta - In Noites de Lamego)
(Pode ler-se mais aqui: Casa do Barroso, Aldeia de Bragadas (Ribeira de Pena) - no blogue da Casa de Camilo)
Fim da 1ª parte deste Roteiro.
Pode ver-se mais no blogue: "Portugal___ em Mim"http://lucy-natureza.blogspot.com/2011/07/nos-passos-de-camilo-ribeira-de-pena.html
(Continua no post seguinte)
1 comentário:
Só não saboreei as empadinhas do Gomes.Quanto ao resto, texto e fotos, foi bem saboreado. Foi bom rever terras de Camilo. E lembrá-lo. Obrigado.
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