Casa de Camilo

Camilo Castelo Branco

Camilo Castelo Branco
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Seide Saúda-vos!

23 de fevereiro de 2011

Excerto de Miguel Torga


"Chuva.Bátegas de água que parecem cargas de cavalaria. Quem se arrisca a pôr o pé fora da porta, atravessa a rua com a velocidade dos relâmpagos. Do lado de dentro das casas, dos automóveis e dos eléctricos, a humanidade separa-se da natureza por vidraças ...
Heróico, sereno, plantado no jardim como um arbusto flexível mas persistente, o busto de António Nobre. E a penosa visão do poeta imortalizado, deu-me para pensar... na desgraça das estátuas. É que são realmente desgraçadas! Pelo menos as daqueles que em vida as mereceram de verdade. Ainda hoje me arrepio, só de recordar a visita que fiz, num dia de remoto Inverno, a um Camilo (Castelo Branco) monumentalizado no Porto. Debaixo de um céu negro e pesado, a escorrer água e solidão, a sua máscara de azebre era a imagem dum condenado a penas eternas. O angustiado de Seide, enquanto vivo, tinha ao menos um filho doido, os livros e o génio para aquecer o coração. Mas aquele Camilo de forma, esquecido e desabrigado, não tinha nada. Nem sequer o calor das próprias veias!

"É claro que nunca passou pela cabeça de nenhuma patriótica edilidade, de nenhum indefectível admirador, esta ideia: que talvez se esteja ali, no próprio acto de inauguração do bronze, a arredondar a coroa de espinhos com que em vida já se crucificou o Homem que se glorifica. É que... Mas que trágico destino ficar numa praça a apanhar vento e chuva até à consumação dos séculos! Era bom estar estar ali, era. Havia de ser, porém acompanhado de uma saudade verdadeira. Duma lembrança quente, perene, constante, que fosse como uma seiva a correr entre a vida e a morte. Mas qual o quê!
Entre nós, uma estátua significa apenas o chumbo que não se pôs no esquife. E por isso é que não conheço um sequer dos infelizes embalsamados em metal que há por aí que se sinta bem na sua mortalha póstuma.

É claro que também há sujeitos de pedestal, alegres, felizes, com ar de quem vigarizou a posteridade. Desses, porém, nem vale a pena falar: apenas continuam na morte a triste comédia que representaram na vida ... "


                                                  Miguel Torga
                                                  Diário
                                                  Coimbra, 12 de Dezembro de 1942

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Casa de Camilo - Noites de Insónia

«As “Noites de Insónia” têm como finalidade a descoberta de formas diferentes de aproximação aos textos camilianos, através da discussão em grupo de determinadas obras, escolhidas previamente. Do gosto pela leitura e da conversa sobre o que se lê, da troca de opiniões, de pontos de vista, de associações, procuraremos criar cumplicidades e desenvolver o gosto por uma leitura mais activa e partilhada da obra do romancista de Seide.» http://camilocastelobranco.org/index2.php?co=569&tp=6&cop=260&LG=0&mop=604&it=evento_lst Coordenadores: 2009 - Professor Cândido Oliveira Martins - Universidade Católica de Braga 2010 - Professor Sérgio Guimarães de Sousa - Universidade do Minho 2011 - Prof. João Paulo Braga

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