Casa de Camilo

Camilo Castelo Branco

Camilo Castelo Branco
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Seide Saúda-vos!

30 de janeiro de 2010

As “Noites de Insónia” de Calisto Elói

Foto da autora deste blogue.



Para uma leitora, recente, da obra camiliana, que inicia a sua paixão por Camilo nos encontros das Noites de Insónia, confesso que foi com imenso prazer que li a obra proposta para o 1º encontro deste ano, na quarta-feira passada (dia 20), na Casa de Camilo: A Queda dum Anjo.

Este livro já me viera parar às mãos noutras épocas, em que, só pelo título, eu desconfiara do conteúdo bafiento e, por isso, recusara tal leitura. Puro engano meu, nessa época eu desconhecia a delícia, o sabor de um manjar dos deuses, traduzido na mestria da linguagem escrita de Camilo Castelo Branco.

Hoje, posso considerar-me uma apaixonada por Camilo, como a Amélia, a Luísa, a Joaquina, e todas as Marias do Adro, que com ele trocaram os primeiros e virginais amores.

E estes meus amores por Camilo nascem da grande admiração pelo seu entrelaçado de frases, que muito oportunamente surgem pelo conhecimento da alma humana, de quem está habituado a beber da singeleza do ser, que nos leva a coabitar com memórias mais longínquas, de eras passadas, mas intuindo sempre que elas fazem parte do mesmo teatro da vida, sempre actual, e que assim perdurarão.

Por isso, Camilo é capaz de fazer rir e chorar, com a mesma simplicidade de quem não faz esforço para pegar na “pena”, deixando sempre brotar as emoções vividas pelos personagens, tornando-as vivas, presentes, histórias reais que não se encontram em obras de ficção, pois nelas há sempre verosimilhança.

E quando elas tocam a raia do extraordinário, do pitoresco, da caricatura, ainda mais apreciadas se tornam, pois fazem renascer ou acordar em nós sensações adormecidas, fantasias secretas, imaginações do estado de sermos humanos. E será, talvez, esta a grande partilha de Camilo nas poucas obras que já pude ler, a mostra do seu mundo pessoal através da vivência das suas personagens, pois que a cortina é tão ténue que sempre se adivinha a sua imagem ao espelho, rindo-se da sua própria imagem, observando-se tão atentamente quanto a todos os que o rodeiam…

A Queda dum Anjo demonstra bem como todos somos anjos caídos, tão acérrimos defensores de valores elevados e de alta moral, que mal o vento mude e outro tipo de sorte nos bata à porta, aí estamos nós, tipo catavento, a girar para o lado que mais nos agracie. Assim é feito o ser humano, de contradições e incoerências.

A demonstrá-lo temos o demónio parlamentar quando descobre um Anjo, Calisto Elói, rústico-erudito transmontano, perseguidor de leis antigas e de virtudes capitais que, na Câmara de Lisboa faz sucesso com a sua eloquente oratória, contrapondo o palavrório do Doutor Libório, que não falando português de gente, mas idiomas que por muito espremidos azedam a língua, não passam de farfalhices de tolos.

O apelo à “Ordem para a Língua Portuguesa” passa assim a ser urgente, já que tais locuções repolhudas podem ser consideradas parlamentares – assim raspa aos ouvidos da Câmara a linguagem seca de Calisto, quando estes se deleitam com a retórica florida do Deputado do Porto.» (Citações retiradas do livro)

E nós, simples leitores, apaixonados pela envolvência do cenário, já nem damos pela nossa voz (e braço) que se eleva ao ritmo da do nobre Morgado, proclamando, também, em alta voz: Senhor Presidente! … (e depois, surgem os risos ou as gargalhadas perante tais excessos de linguagem, ou caricaturas extremosas de figuras e conceitos, satirizando governos e regimentos).

O carismático Calisto Elói acaba por perder as asas quando entra no “Sistema governamental”, com todos os agraciamentos a que teve direito, porque o “amor” tem custas penas e, há que ganhar o sustento com o seu próprio suor.

E muito mais haveria para explorar sobre esta “Queda dum Anjo” e o espírito lúcido com que Camilo Castelo Branco a projectou num espaço e num tempo que não se distanciam do actual.

Mas foi ela brilhantemente esmiuçada pelo actual coordenador e orientador das nossas Noites de Insónia, o Professor Sérgio, que através da sua clara visão e poder de comunicação, deu ele, também, expressão viva à obra, levando-nos a compará-la com outras da literatura portuguesa ou internacional, mesmo da ficção cinematográfica, nos pontos de convergência, no estilo linguístico, na caracterização de personagens e de atitudes similares, abrindo o leque das perspectivas com que se pode encarar uma obra literária, fazendo-nos apreciar, cada vez mais, as obras camilianas e entusiasmando novos leitores.»

Lucília Ramos





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Casa de Camilo - Noites de Insónia

«As “Noites de Insónia” têm como finalidade a descoberta de formas diferentes de aproximação aos textos camilianos, através da discussão em grupo de determinadas obras, escolhidas previamente. Do gosto pela leitura e da conversa sobre o que se lê, da troca de opiniões, de pontos de vista, de associações, procuraremos criar cumplicidades e desenvolver o gosto por uma leitura mais activa e partilhada da obra do romancista de Seide.» http://camilocastelobranco.org/index2.php?co=569&tp=6&cop=260&LG=0&mop=604&it=evento_lst Coordenadores: 2009 - Professor Cândido Oliveira Martins - Universidade Católica de Braga 2010 - Professor Sérgio Guimarães de Sousa - Universidade do Minho 2011 - Prof. João Paulo Braga

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