Depois de férias, nada melhor do que relembrar o espírito irónico de Camilo através da sua obra: As aventuras de Basílio Fernandes Enxertado.
"Nasce o herói. A cabeça e as espertezas do mesmo"
Setembro 13, 2011 por Casa de Camilo: http://casadecamilo.wordpress.com/
Basílio foi o primogénito e único. Nascera muito gordo e extraordinariamente volumoso. Tinha a cabeça igual ao restante corpo, e uns pés dignos pedestais do capitel da irregular coluna. Enquanto ao tamanho da cabeça, foi este o motivo para muitas alegrias na casa; no parecer daquela mãe ditosa, a grandeza da cabeça era sinal de juízo, e o tamanho das orelhas correlativas sinal de bom coração. O pai, como não tinha ideias suas acerca de orelhas, abundava nas de sua mulher, posto que de via certa soubesse que um mau vizinho da porta dissera que o seu Basílio era aleijado, e sairia com orelhas de burro, se se demorasse mais de três meses no ventre materno.
… José Fernandes, como o filho tivesse oito anos bem espigados, comprou-lhe um A B C, e foi levá-lo à escola. Era a cabeça de Basílio, no dizer do mestre, muito mais dura, e tapada, e maior que a bola de pedra da torre dos Clérigos. Ao cabo de três meses, Basílio já conhecia um o e um i; mas, se tirassem o ponto ao i, chamava-lhe o. O mestre seguia o sistema da pancadaria, sistema o mais racional de todos com cabeças daquele feitio.
(In As aventuras de Basílio Fernandes Enxertado)
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