Casa de Camilo

Camilo Castelo Branco

Camilo Castelo Branco
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Seide Saúda-vos!

23 de março de 2010

CRONOLOGIA DE CAMILO CASTELO BRANCO - (1)


1825 – Camilo Castelo Branco nasce em Lisboa no dia 16 de Março, filho ilegítimo de Manuel Joaquim Botelho e Jacinta Maria. Desta ligação havia já uma outra filha, Carolina.
1826 – A família de Camilo muda-se em Lisboa para a Rua da Oliveira.

1827 – Morre a mãe.

1829 – O pai perfilha Camilo e Carolina.

1830 – O pai de Camilo é colocado em Vila Real como director dos Correios. A família desloca-se para essa localidade.

1831 – O pai, no entanto, é demitido e regressam todos a Lisboa. Neste ano nasce Ana Plácido, futura companheira de Camilo.

1835 – Morre o pai a 22 de Dezembro.

1836 – Camilo e a irmã partem para Trás-os-Montes. Passam a viver em Vila Real com uma tia paterna.

1839 – A irmã de Camilo casa com Francisco José de Azevedo e ficam a viver em casa de um irmão deste, o Padre António de Azevedo, em Vilarinho de Samardã. Recebe aí educação religiosa e literária do clérigo.

1841 – Casa com Joaquina Pereira e passa a viver em Friúme, Ribeira de Pena.

1842 – Vai estudar com o Padre Manuel da Lixa, em Granja Velha, para preparar o acesso à universidade.

1843 – Nascimento de Rosa, filha de Camilo e de Joaquina Pereira. Camilo inscreve-se na Academia Politécnica e na Escola Médica do Porto.

1844 – Frequenta o primeiro ano do curso de Medicina no Porto.

1845 – Inscreve-se de novo na Escola Médica e perde o ano por faltas. Publica Pundonores Desagravados (poema herói-cómico) e Juízo Final (poema satírico). Nasce Eça de Queirós.

1846 – Apaixona-se por uma rapariga de Vila Real, Patrícia Emília de Barros. Foge com ela para o Porto e é mandado prender pelo tio da moça. Inicia-se no jornalismo e colabora nos jornais O Nacional e Periódico dos Pobres. Escreve o drama Agostinho de Ceuta.

1847 – Em Friúme morre Joaquina, a esposa. Camilo escreve alguns artigos em O Nacional contra o governador de Vila Real. Como resposta, é mandado espancar.

1848 – Fixa-se no Porto, iniciando uma vida de boémia. Causa alguns escândalos de natureza amorosa. Faz parte do grupo «Leões» do café Guichard. Morre a filha Rosa e nasce a filha Bernardina Amélia, esta da sua relação com Patrícia Emília. Publica o folheto Maria não me mates que sou tua mãe!.

1849 – Faz crítica de teatro e colabora no Jornal do Povo.

1850 – Vai viver para Lisboa, onde escreve Anátema, o seu primeiro romance. Passa a viver exclusivamente daquilo que escreve. Inicia o namoro com Ana Plácido, noiva de Manuel Pinheiro Alves. Simultaneamente, dá-se de amores com a freira Isabel Cândida Vaz Mourão, do Convento de S. Bento da Avé Maria, no Porto. Resolve nesta altura matricular-se no seminário do Porto.



2 de março de 2010

A bruxa de Monte Córdova... nas memórias da minha infância!


«Só quando cheguei aos capítulos finais do romance, mais propriamente ao capítulo em que Angélica Florinda morre, é que o título do livro ecoou na minha memória e me fez recuar no tempo, fazendo-me “ouvir” melhor a história da Bruxa de Monte Córdova. Foi nessa altura que me surgiu um quadro familiar da minha mais tenra infância, o dos meus pais e irmãos (principalmente irmãs – quase me atreveria a dizer que os livros de Camilo se destinavam mais a mulheres que a homens), todos juntos, quietamente ouvindo ler, na voz da minha irmã mais velha, que, dramatizando e enfatizando as “falas” das personagens, tanto fazia comover os ouvintes. E eu, muito pequena, só me apercebia das lágrimas, do choro contido que quase explodia em cada uma das mulheres presentes (e éramos sete), em cada momento de emoção maior, que Camilo tão bem sabia emprestar aos seus romances, certamente por ser um conhecedor de corações femininos.

Eu nasci na Vila das Aves, bem perto do monte Córdova em Santo Tirso, locais sobejamente conhecidos por todos nós, que tanto gostávamos de fazer piqueniques nos montes. Meu pai, um velho professor primário – um verdadeiro mestre-escola (como diria o nosso romancista) pelo modo como ele amava os livros e nos incitou à leitura, fazendo com que, diariamente, se lessem em voz alta capítulos de obras, principalmente dos clássicos portugueses. Era um homem ligado ao passado, não muito distante do da vivência das personagens dos contos camilianos, já que em Portugal dos anos cinquenta, do séc. XX, ainda se respirava uma atmosfera de século XIX, como é notório sempre que decorre uma passagem de anos e parece que o tempo deixa tudo inalterável.

Depois de lida esta obra camiliana e debatida em mais uma “noite de insónias”, pergunto-me sobre meu pai, fervoroso na sua fé católica – quase foi padre – como teria ele reagido a este desmascaramento que Camilo faz da devassidão clerical de então?

Bem, se ele nos “obrigava” a lê-lo, a ouvi-lo, é porque estaria francamente de acordo com a visão do romancista sobre o ar que “apestava” os mosteiros da época, tendo sido ele, também, um seminarista pouco convicto, tendo obtido ordem de expulsão, e por guardar cartas amorosas escritas a minha mãe (tanto quanto sei) – um pouco à semelhança do personagem Frei Tomás de Aquino, que não sendo fadado para monge, tudo fez para se livrar de um destino que não lhe pertencia… e por muito amar Angélica.

O tribunal divino lá se encarrega de reduzir a cinzas os algozes, já que “ensinamento aprendido de homens é nada, é alardo vão de força de alma que um revés derruba”, “um punhal poderá ser menos criminoso que um madeiro nas mãos de um frade” – assim falava Frei Jacinto, um autêntico Frei de Deus, sobre aqueles que condenaram frei Tomás de Aquino e não menos… Angélica, a sua atraente e amorosa mulher, que passando por um enorme sentimento de culpa pela morte prematura de seu amado, tropeça na insanidade da mente tornando-se filha espiritual de um frade arrábido, que se entretinha a coordenar em relicários, “esquírolas de ossos de vários santos”, granjeando dinheiro e prosperando no seu negócio mesmo à custa de tornozelos de carneiro, que desfeitos às lasquinhas, eram consignados a diferentes santos e santas. Acabou por levar meia dúzia de cachações por conta, para que não mais pusesse os “seus seráficos pés” no convento de Santa Clara e se afastasse de Angélica.

Não obstante isso, … a quinta essência do Amor Divino subiu à cabeça e coração de Angélica fazendo-a abandonar o convento, levando-a ao eremitério, passando de “santinha” a “bruxa”, ainda que no seu sentir: a Penitente. Foi ela parar a Monte Córdova e lá morreu, não sem antes ter reconhecido e se ter despedido do filho, o barão de Burgães – Burgães, outro lugar bem conhecido, freguesia entre as Aves e Santo Tirso.

Um história triste mas a acabar bem, na expiação de culpas, na redenção de almas, com os conhecidos condimentos com que Camilo sempre temperava os seus cozinhados de emoções e mitigava as suas dores e perdas, embora não se esquecendo de enaltecer e de realçar o trabalho e a honra como resgate da dependência.

Uma história que me levou à memória de meus pais já falecidos e a cenários enfraquecidos pelo tempo.

Assim é Camilo, uno connosco, um familiar ausente mas sempre de regresso ao lar, para que a chama possa ser reacendida e a subida conjunta ao “monte” possa trazer a cura de emoções reprimidas.»

Lucília Ramos


Também publicado no blog da Casa de Camilo:
Comunidade de Leitores da Casa de Camilo “partilhou” A bruxa de Monte Córdova (24 de Fevereiro, pelas 21h30): http://casadecamilo.wordpress.com/2010/03/02/a-bruxa-das-noites-de-insonia/


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Casa de Camilo - Noites de Insónia

«As “Noites de Insónia” têm como finalidade a descoberta de formas diferentes de aproximação aos textos camilianos, através da discussão em grupo de determinadas obras, escolhidas previamente. Do gosto pela leitura e da conversa sobre o que se lê, da troca de opiniões, de pontos de vista, de associações, procuraremos criar cumplicidades e desenvolver o gosto por uma leitura mais activa e partilhada da obra do romancista de Seide.» http://camilocastelobranco.org/index2.php?co=569&tp=6&cop=260&LG=0&mop=604&it=evento_lst Coordenadores: 2009 - Professor Cândido Oliveira Martins - Universidade Católica de Braga 2010 - Professor Sérgio Guimarães de Sousa - Universidade do Minho 2011 - Prof. João Paulo Braga

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